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Propaganda, Arte e Elites Culturais

14h-15h30

> Vera Marques Alves (CRIA) O popular entre as classes médias e as elites portuguesas nas décadas de 30 e 40. Uma interpretação do alcance político da campanha etnográfica do Secretariado da Propaganda Nacional. 

 

Na década de 30 e 40, o organismo de propaganda do Estado Novo, designado Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), desenvolveu uma campanha etnográfica que incluiu um intenso programa de iniciativas em torno da chamada «arte popular» portuguesa. Em causa estava um projecto que passava por uma apropriação altamente selectiva da cultura material do mundo rural, entretanto transformada em “arte popular” e em testemunho do suposto carácter doce e lírico do povo português. É comum interpretar tal intervenção como parte de uma política dirigida às camadas populares, visando o enquadramento ideológico das mesmas. No entanto, as acções de cariz folclorista promovidas no país eram afinal dirigidas, na sua maior parte, às elites e classes médias. Como defendo nesta comunicação, o alcance político de tal programa junto das camadas burguesas da sociedade portuguesa não era de menosprezar: através do retrato poético das classes trabalhadoras – apresentadas como camponeses estetas --, apaziguava-se os medos e ensejos reformistas das camadas intermédias da população, promovendo o Estado Novo como garante de uma paz social inventada. Ao mesmo tempo, transformando os artefactos rústicos em emblemas poéticos e amoráveis da nação e difundido o seu uso enquanto objectos de decoração doméstico nas casas e espaços quotidianos das classes médias – ensejo bem patente nas páginas da revista Panorama, editada pelo Secretariado – o organismo de propaganda do governo de Salazar tentava nacionalizar os gostos desta faixa da população, transformando o seu apego à “arte popular portuguesa” numa afeição pela própria nação e pelo regime que alegadamente encarnava e protegia a essência da pátria.    

 

> Rosa Paula Rocha Pinto (CESEM) “Mais uma bandeira portuguesa a flutuar altiva e serena sobre as ruinas do velho Mundo... “: António Ferro e a criação dos Bailados Portugueses Verde Gaio (1940-1950)

 

Enquadrada na sua “política do espírito”, os Bailados Portugueses Verde Gaio, primeira companhia de bailado teatral em Portugal, foram criados por António Ferro, Secretário da Propaganda Nacional do Estado Novo. Com estreia em 1940, sob o pretexto das Comemorações dos Centenários da Fundação e Restauração da Independência de Portugal, e da Exposição do Mundo Português, a companhia propunha como programa a representação balética de uma “identidade nacional” através de uma linguagem artística “moderna” e, simultaneamente, de inspiração popular, com temas sediados sobretudo em imaginários históricos e regionais. Nos primeiros dez anos de actividade da companhia, eram encomendados mais de uma dezena de bailados a compositores como Jorge Croner de Vasconcelos, Rui Coelho, Armando José Fernandes ou Frederico de Freitas, tendo sido muito os escritores e artistas plásticos que colaboraram com a companhia que, no domínio coreográfico, contou com a assinatura tutelar do bailarino português Francis Graça. Marcantes no percurso da companhia foram ainda as digressões a Madrid e Barcelona (1943) e a Paris (1949) que, em toda a sua linha, corresponderam fortemente a gestos de diplomacia cultural relacionados com contingências do panorama político nacional e internacional.  Nesta apresentação, debruçar-nos-emos sobre o discurso de António Ferro na construção do imaginário que enforma os Bailados Portugueses Verde Gaio perscrutando o seu trajecto, desde a primeira década do século XX, com a passagem dos Ballets Russes por Lisboa e dos seus primeiros artigos para a revista Ilustração Portuguesa, na década de 1920, e procurando incidir nas complexas ligações entre os conceitos de “propaganda”, “nacionalismo”, “modernismo”, “tradição” e “contemporaneidade”. 

 

> Sérgio Miguel Sá (INET-md) O Corpo na Propaganda ou a Propaganda do Corpo:

“Danças Africanas” em Documentários do Estado Novo

 

As primeiras imagens de africanos a dançar que foram mostradas ao público português, realizadas durante o período do Estado Novo, têm naturalmente um pendor fortemente colonial. Foram feitas em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, mas também durante a Grande Exposição Industrial Portuguesa, em 1932, onde foi recriada uma aldeia da Guiné. Veremos nesta comunicação como a câmara mostra diferentes tipos de corpos e danças, e como é que os dançarinos se relacionam com a câmara, porque como sabemos pelos intertítulos a maior parte delas aconteceram de propósito para serem filmadas. Há um enfoque no exótico e na diferença (por exemplo, close-ups de partes do corpo), mas também veremos como a câmara mostra a articulação entre os dançarinos e o público, que nalguns casos participa nas performances. A partir daqui, no que estas imagens revelam e no que ocultam, pretende reflectir-se sobre o modo como o Estado Novo mostra estes corpos “indígenas” (denominação nos intertítulos) e de que forma a propaganda perpassa também por eles.

> Tiago Baptista (Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema) O Jornal Português: salazarismo, propaganda e cinema

 

O Jornal Português foi produzido para o SPN/SNI pela Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas (SPAC), sob a supervisão técnica de António Lopes Ribeiro, entre 1938 e 1951, para fazer a propaganda do regime salazarista. Esta comunicação analisa os contextos de produção, distribuição e receção deste jornal de atualidades, o seu papel na propaganda cinematográfica do regime e, também, no mercado e na cultura cinematográfica daquele período.

 

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